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THE BOOK IS ON THE SKY

 

QUANDO PUS OS OLHOS EM MEU PEQUENO BOOK, ELE ME FEZ CHORAR PELA PRIMEIRA VEZ. Mas permita-me esclarecer: deparei-me com um anúncio de adoção de gatos e, sem hesitar, sai do meu apartamento na Avenida São Luiz, número 192, no coração de São Paulo. Dirigi-me até os Jardins, onde uma garota abrigava felinos necessitados de um lar. Ao chegar lá, a varanda dela transbordava de gatinhos encantadores. Foi então que Book, com seu PELO BRANCO E A DISTINTIVA MANCHA PRETA EM FORMA DE CORAÇÃO, escalou minha saia comprida. Ele não era o gato do anúncio, mas sua presença cativou meu coração. O peguei nos braços, agradeci à generosa garota, mas logo fui informada de que não poderia levá-lo naquele momento. Meu apartamento precisaria ser avaliado, e eu teria que provar minha aptidão para cuidar dele.

Naquela mesma época, já dividia meu refúgio com os leais siameses, Kiara e Shuster, ambos partiram pouco tempo após o nascimento de Raul. Mãe e filho compartilharam quase 17 anos juntos, e creio que essa experiência valida minha aptidão para cuidar dos felinos. No entanto, retornei desolada, ansiando pela companhia de Book, mas agora me via forçada a aguardar, sem saber exatamente quantos dias seriam necessários para tê-lo ao meu lado. Minhas mensagens para a garota fluíam de maneira incansável, pois sou obsessiva e minha determinação é inabalável quando um desígnio está diante de mim.

E então, um dia abençoado, ela finalmente trouxe meu querido Book para casa. Inicialmente, eu o levava comigo para o trabalho. Seu nome foi escolhido pela comunidade de seguidores da editora nas redes sociais. No entanto, com o tempo, ele desenvolveu um forte apego aos gatos mais velhos, e decidi deixá-lo tranquilo em nosso apartamento. Book, na verdade, nunca teve o espírito aventureiro dos gatos errantes, embora um pouco do que irei narrar demostre o contrário.

O jovem gato Book tinha o hábito de se aconchegar debaixo dos cobertores comigo. Quando eu usava pijamas ou cobertores de fleece, ele sempre pensava que era sua mãe, executando aquele gesto característico que os gatos fazem para estimular o fluxo de leite da gata parideira. Era um vínculo especial que nos unia, e suas noites aconchegantes eram um bálsamo para ambos os nossos corações. Book the cat, participava de todas as festas que eu dava no meu apartamento em minha época de solteira, ele gostava das festas, eram muitas e muitas festas, a maioria a fantasia. Book gostava dos meus amigos, e sempre ficava perto de todos nos.

Um dia, cansada da agitação da vida metropolitana, fiz a mudança para Perdizes, acompanhada pela minha pequena tropa de gatos. Nosso novo lar era um desses antigos apartamentos de quatro andares, sem elevador. Naquela noite, ao retornar por volta das 11 da noite, exausta, mal consegui abrir a porta quando os siameses começaram a miar freneticamente, alertando-me de que Book não estava em casa. O desespero tomou conta de mim. Subi e desci as escadas inúmeras vezes. QUANDO PERDI AS ESPERANÇAS E SENTI UMA PÉSSIMA SENSAÇÃO, ELE ME FEZ CHORAR PELA SEGUNDA VEZ.

Liguei para meu namorado na época, hoje meu marido, e ele veio ao meu socorro. Conhecendo os gatos como eu conheço, imaginei que ele pudesse estar escondido na garagem, apavorado, pois um gato com medo raramente sai do lugar. Perto da meia-noite, já cansada de fazer o som característico de “psss psss pssisii”, que apenas os amantes de gatos sabem reproduzir, e ninguém sabe escrever, ouvi um miado vindo de dentro de um carro. Olhei atentamente através da grade do para-lama do carro e lá estava um gato marrom. Meu Deus, outro gato? Pensei. Mas logo percebi que era o MEU gato, meu gato de PELO BRANCO E A DISTINTIVA MANCHA PRETA EM FORMA DE CORAÇÃO e que agora estavam sujos e, ele encurralado nas entranhas do veículo.
Era quase meia-noite, e eu não fazia ideia de quem era o dono do carro. Liguei para a seguradora na esperança de que pudessem abrir o para-lama, mas não puderam ajudar. Também contatei os bombeiros, que não estavam disponíveis para nos socorrer. Enquanto isso, os vizinhos festeiros que haviam chegado, começaram a se juntar para tentar resgatar o gato. Somente por volta da uma da manhã descobrimos finalmente quem era o dono do carro. Ele não ficou nada contente de ser acordado, e, em sua pressa, atirou-me as chaves do carro, como se dissesse: “Faça o que quiser, mas me deixe dormir”. Finalmente, com a ajuda de um macaco, conseguimos levantar o carro e, com grande esforço, retiramos o gato de seu esconderijo. Foi revelado mais tarde pelo proprietário do veículo que naquele dia ele havia saído de casa três vezes com o carro. Nunca soube se o gato havia explorado a cidade enquanto estava aprisionado naquela grade do carro ou se havia apenas se infiltrado durante a noite, mas sempre o imagino ali, cativo junto à grade, contemplando a vastidão de São Paulo. Para um gato de apartamento, é difícil conceber qual deve ter sido a sensação.

Alguns meses depois, meu namorado e eu tomamos a decisão de adquirir um Golden Retriever, a célebre e idosa Tequila, sempre quis que ela se chamasse Amora, mas enfim… Ela era um ser de amor incondicional, capaz de inspirar uma mudança no mundo se os humanos fossem ao menos metade do que ela representava. Compartilhar a guarda da cadela logo se provou uma tarefa impossível, e por consideração à sanidade mental da querida Tequila, e talvez pela nossa, optamos por morar juntos em uma casa na Vila Ipojuca. Ali, começava nossa jornada de afastamento gradual do caos da cidade.

Dessa forma, iniciamos essa nova jornada, eu, Tiago, Tequila e nossa leal tropa de gatos. Entre momentos felizes e sossego, MEU GATO ME FEZ CHORAR PELA TERCEIRA VEZ. Um dia, Book simplesmente desapareceu. Como já disse ele não era um gato afeito a perambulações, então, chorei litros de lágrimas. Imprimi inúmeros panfletos com sua imagem e os preguei pelos postes da vizinhança, recebi diversas ligações errôneas. Busquei na internet os serviços de detetives especializados em animais desaparecidos e assimilei todo o conhecimento disponível sobre como encontrar um gato perdido nas ruas.

Por volta da meia-noite, adentrei as ruas em sua busca incansável. O silêncio noturno era opressivo, mas minha determinação me impelia a continuar. Foi em um momento de quietude que percebi um miado distante, um som que acelerou meu coração. Segui o som até encontrar sua origem no alto de um telhado, um telhado inacessível. Mais uma vez, recorri aos bombeiros, mas foi nesse momento que descobri a dura realidade por trás daquilo que vemos nos desenhos animados, onde bombeiros heroicos sempre resgatam gatos. Era apenas uma ilusão.

Mais uma vez, a sorte sorriu para nós quando encontrei pessoas na rua. Entre elas, havia um robusto atleta, que parecia disposto a enfrentar qualquer desafio. Ele se ofereceu para ajudar. O atleta, com sua determinação e coragem, escalou o muro e se arrastou até o local onde Book estava. No entanto, o clímax estava reservado para o momento mais tenso, porque quem conhece gatos sabe que, quando estão amedrontados, podem arranhar impiedosamente, mesmo aqueles que estão arriscando suas vidas para resgatá-los. No entanto, mais uma vez, o desfecho foi positivo, apesar da tensão palpável que permeava o ar.

Quando Raul veio ao mundo, a casa parecia encolher, mesmo agora sem a presença de Shuster e Kiara, meus amados siameses, que partiram de velhice, e decidimos mudar para o coração da Lapa, uma casa com um quintal espaçoso. O lugar clamava por mais um companheiro peludo, e durante a pandemia, acolhemos uma cadela caramela chamada Amy. Logo depois, ajudei um vizinho a cuidar de alguns gatos que estavam à procura de um lar, e foi nesse contexto, que uma irresistível atração se apoderou de mim diante de um gato amarelo, cuja aparência me trouxe memórias vívidas do meu primeiro gato, Tico. Entretanto, a história de Tico, o gato sem rabo, é tão rica e intrincada que não pode ser adequadamente contada neste relato sobre outro felino. Ela merece sua própria narrativa, uma jornada repleta de peripécias felinas que ultrapassa as palavras desta história. Para aqueles que conhecem a história, sabem dos momentos intrigantes e reveladores sobre o que aconteceu com seu rabo.

Um dia, finalmente cedemos à convicção de que não havia lugar mais tranquilo em São Paulo do que uma cidade do interior, e assim, decidimos nos mudar para Atibaia. No entanto, pouco antes dessa mudança, enquanto passeávamos com a nossa querida Golden Retriever, conhecemos uma vira-lata chamada Brenda. Foi amor à primeira vista, de novo, quem disse que podemos amar um só. Coincidentemente, Brenda estava disponível para adoção naquele momento.
Quase um ano se passou desde o nosso primeiro encontro com Brenda, quando, de repente, tomamos a decisão de buscá-la em São Paulo. As dinâmicas entre nossos animais começaram a mudar um pouco. Bud, o gato amarelo, tinha uma paixão incontrolável pela rua e passava a maior parte do tempo lá fora, fazendo aparições esporádicas em casa. Book, por outro lado, passou a considerar meu escritório como seu novo lar. Ele adorava beber água do meu copo, percorrer o meu teclado e desligar o fio do meu monitor com seu rabo.
Em dias de tensão, quando minha concentração não podia ser comprometida por distrações como o suave afago nos pelos do gato, Book parecia ignorar a iminente carga de estresse. Eram nesses momentos que ele desafiava a gravidade e se lançava em meu colo. E eu, corajosamente, o lançava ao chão. Sim, isso mesmo, o lançava ao chão, pois como todo conhecedor de felinos compreende, os gatos sempre caem de pé. E jogar um gato ao chão exige uma habilidade que demanda destreza e cuidado para evitar garras afiadas. Assim, repetidas vezes, eu o depositava no solo, e ele, sem hesitar, retornava ao meu colo. Era um jogo que só se encerrava quando, por fim, eu desistia e permitia que ele permanecesse onde bem entendesse. O bom conhecedor de gatos sabe que a dinâmica funciona dessa forma, e o bom amador de gatos sempre cede.

Há pouco tempo, cruzamos com Zé, um belo e afetuoso cachorro preto que havia sido abandonado em um clube. Ele estava emaciado, mas sua devoção às crianças do local era inabalável. Ao perceber que ele não tinha dono, não hesitei em trazê-lo para casa. Apresentei-o aos gatos, e ele mostrava curiosidade e uma certa apreensão quando os felinos emitiam aquele som característico de desagrado, algo que apenas aqueles que amam gatos entendem e, por vezes, acham até engraçado.

Aparentemente, tudo estava indo bem. Zé se adaptou à casa e aos outros cães, ocasionalmente espreitando meu escritório para observar os gatos, mas sem demonstrar qualquer sinal de perigo iminente.

E foi então, ontem, no Dia da Consciência Negra, ELO BRANCO E A DISTINTIVA MANCHA PRETA EM FORMA DE CORAÇÃO ME FEZ CHORAR PELA QUARTA VEZ. Ao chegarmos em casa, notamos pelos brancos e pretos espalhados pela casa, e no escritório, meus objetos da mesa jaziam caídos pelo chão, assim como seu pote de ração que ficava na torre de gatos, que se erguia a mais de 2 metros de altura. Embora não houvesse vestígios de sangue, uma sensação de alerta tomou conta de mim. Foi quando olhei pela janela e o vi lá, meu gatinho, coberto de terra e folhas… Meu gatinho, meu fiel companheiro de trabalho, meu bagunceiro que bebia minha água, que passava o dia inteiro ao meu lado, meu gatinho tinha partido.

A natureza dos animais é um mistério insondável. Nunca saberemos qual dos cães deu início à confusão e qual deles proferiu a mordida derradeira, com exceção da Golden, que é incapaz de causar mal a alguém. É provável que Amy tenha incitado a confusão, ela é daquelas que instigam, mas não executam. Talvez tenha sido Zé, um misto de pastor e Border Collier, um tanto ingênuo, porém, um lobo em sua essência. Ou quem sabe Brenda, a vira-lata resgatada… nunca saberemos.

Aqueles que me conhecem sabem que amo todos os seres vivos, desde as aranhas até as lagartixas. Posso passar horas observando formigas carregando folhas, às vezes até encorajo meu filho a colocar folhas na boca dos formigueiros para que elas não precisem percorrer milhares e milhares de metros. Nunca tiro a vida de nenhum ser vivo, exceto os temidos mosquitos e as pobres baratas, que perecem devido ao nojo arraigado. Ah, mas os felinos são os meus preferidos: leão, onça, chita, tigre, pantera e os gatos.

O que me faz amar os gatos é a misteriosa e irresistível dança entre independência e afeição que eles compartilham conosco, amo seus ronronares tranquilizantes, seus miadinhos arrojados, e até mesmo os miados ameaçadores quando você ousa não parar de acariciar suas barrigas. Adoro seus chamados urgentes para alimentá-los e os pedidos para abrir a torneira da pia, que inevitavelmente esquecemos de fechar depois, permitindo-lhes beber água fresca. E amo quando eles se esfregam carinhosamente, seus corpinhos peludos roçando em nós, enquanto seus rabos tremeluzem ligeiramente. Amo quando eles demonstram agilidade extrema ao caçar um inseto pelo ar, quando se aninham em cantos acolhedores para uma soneca tranquila, ou quando decidem que o teclado do computador é o lugar perfeito para se deitar enquanto você trabalha. Adoro como podem se transformar em verdadeiros acrobatas ao pular de móvel em móvel. E não posso esquecer o fascínio que têm por caixas vazias, mesmo quando gastamos fortunas com cestos, caminhas, travesseiros e tudo o mais. Para eles, cada caixa é como se fosse um tesouro a ser explorado.

E agora não verei mais meu gato Book, que tinha PELO BRANCO E UMA DISTINTIVA MANCHA PRETA EM FORMA DE CORAÇÃO, fazer nada disso, e ao escrever esta singela homenagem em forma de palavras que QUE ELE ME FEZ CHORAR MAIS UMA VEZ.